26/06/2025 às 17h40 - Atualizado em 26/06/2025 às 19h34

TAMIS-IA: Inteligência Artificial a serviço do diagnóstico precoce de doenças raras no DF

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Plataforma desenvolvida com apoio da FAPDF identifica precocemente crianças e adultos com condições raras ou crônicas, reduzindo hospitalizações evitáveis e fortalecendo a atenção primária


Fonte: Flickr

O TAMIS-IA é uma plataforma orientada por Inteligência Artificial para reconhecimento precoce de doenças raras e triagem de pacientes e representa um avanço na aplicação de tecnologias preditivas na saúde pública. Atualmente em fase de validação em unidades básicas do Distrito Federal, a iniciativa conta com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), via Edital Learning 2022, e articula uma ampla rede de instituições acadêmicas, científicas e de atenção à saúde.

Inicialmente batizado como “Projeto PENEIRA” — em alusão à proposta de triar pacientes com maior risco clínico — o sistema passou a se chamar TAMIS-IA por questões de registro de marca. Tamis, que significa “peneira” em francês, foi escolhido para manter a essência do projeto, enquanto “IA” faz referência ao uso de inteligência artificial.

A proposta integra recursos avançados de inteligência artificial ao sistema de saúde para identificar sinais precoces de doenças raras e condições crônicas. Entre os principais focos estão os Erros Inatos de Imunidade (EII), Amiloidose TTR, Hipercolesterolemia Familiar e Artrite Reumatoide. A triagem automatizada permite a detecção de casos com maior risco clínico, otimizando o encaminhamento para diagnóstico especializado e tratamento oportuno.

A base computacional do sistema utiliza algoritmos como:

  • Random Forest (Floresta Aleatória) – método baseado em múltiplas árvores de decisão que contribui para a estabilidade e precisão dos resultados;

  • XGBoost (eXtreme Gradient Boosting) – técnica de aprendizado de máquina que combina diversos modelos simples para formar previsões robustas, ideal para padrões complexos;

  • SVM (Support Vector Machine) – algoritmo eficaz para distinguir grupos de risco a partir de variáveis clínicas sutis, especialmente útil em bancos de dados menores ou heterogêneos.
     

O TAMIS-IA é alimentado por prontuários eletrônicos integrados a plataformas como e-SUS (sistema oficial do Sistema Único de Saúde – SUS, utilizado na rede pública) e MV (sistema de gestão hospitalar desenvolvido pela empresa MV, amplamente utilizado em hospitais e clínicas no Brasil), além de dados inseridos diretamente por profissionais de saúde na plataforma. A ferramenta calcula, com base em um threshold (limite mínimo de probabilidade para emissão de alerta de risco) de 60%, a chance de o paciente apresentar uma condição rara. A depender do resultado, o sistema emite uma recomendação para encaminhamento especializado ou acompanhamento clínico periódico.

O desenvolvimento do sistema é liderado por uma equipe multidisciplinar que reúne médicos, cientistas da computação e especialistas em epidemiologia, com atuação em instituições como a Universidade Católica de Brasília, Universidade de Brasília, Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS), Hospital de Clínicas da Unicamp e Secretaria de Saúde do Distrito Federal. A aplicação inicial está concentrada na Região Leste do Distrito Federal, beneficiando cerca de 8 mil pessoas.

Dr. Luiz Sérgio Fernandes de Carvalho, médico e doutor em Ciências da Saúde, idealizador da plataforma TAMIS-IA, que utiliza inteligência artificial para diagnóstico precoce de doenças raras no SUS. (Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia)

 

A plataforma TAMIS-IA foi desenvolvida pelo médico e empreendedor Luiz Sérgio Fernandes de Carvalho. A ferramenta foi concebida para integrar variáveis clínicas e epidemiológicas em um modelo preditivo acessível e adaptável à rotina da atenção primária.

“A plataforma TAMIS vai facilitar a coleta e análise de dados dos pacientes, permitindo que as pessoas cuidem da própria saúde de forma mais informada”, afirma Luiz Sérgio.

O projeto também se beneficiou da participação no programa Catalisa ICT, iniciativa do Sebrae voltada à aceleração de negócios inovadores de base científica. A jornada ofereceu capacitação em gestão, mentorias e apoio técnico, contribuindo para consolidar o modelo de negócio e viabilizar a implementação do sistema em contexto real.

Em paralelo à aplicação prática, o sistema adota rigorosos protocolos de segurança e privacidade, atendendo às exigências da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais) e de normativas específicas da área da saúde. Os dados são anonimizados, criptografados e acessíveis apenas por profissionais autorizados, com infraestrutura hospedada em servidores seguros e monitoramento constante.

A expectativa da equipe é registrar a TAMIS-IA junto à Anvisa como software de suporte à decisão clínica (SaMD – Software as a Medical Device), o que ampliará sua adoção no ambiente hospitalar. A plataforma também possui capacidade de atualização contínua a partir do aprendizado com novos dados, o que garante sua evolução diante das mudanças no perfil epidemiológico e nas práticas clínicas.

 “Nosso sonho é que essa ferramenta seja adotada em larga escala no SUS, ajudando a salvar vidas e a otimizar os recursos do sistema. Já demos o primeiro passo — agora queremos consolidar, registrar na Anvisa e expandir para outras regiões”, afirma o coordenador do projeto, Luiz Sérgio.

Impacto e perspectivas

Ao reduzir hospitalizações evitáveis, otimizar a triagem de pacientes e oferecer suporte à decisão clínica, a plataforma TAMIS-IA contribui diretamente para a eficiência do sistema de saúde e para o cuidado integral ao paciente. O diagnóstico precoce possibilita intervenções mais eficazes, melhora a qualidade de vida dos atendidos e reduz os custos com internações e tratamentos de alta complexidade.

O apoio da FAPDF, por meio do Edital Learning 2022, foi decisivo para a viabilidade técnica e científica da iniciativa, fortalecendo a articulação entre pesquisa aplicada e políticas públicas de saúde.

“Acreditamos que iniciativas como o PENEIRA exemplificam como a ciência, a tecnologia e a inovação podem transformar a saúde pública, promovendo diagnósticos mais ágeis, tratamentos mais eficazes e melhor qualidade de vida para a população”, destaca Leonardo Reisman, diretor-presidente da FAPDF.


 

Reportagem: Gabriela Pereira