Governo do Distrito Federal
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9/04/25 às 14h46 - Atualizado em 9/04/25 às 17h56

Taça cheia de inovação: Vinhos do Cerrado superam rótulos internacionais e se destacam como referência mundial

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Com apoio da FAPDF, Brasília se posiciona como nova referência internacional na produção de vinhos finos

 

Produção de vinhos finos na Vinícola Brasília (Créditos: Kennedy Barros)

 

Vinhos produzidos no Cerrado de Altitude, no Distrito Federal, têm surpreendido especialistas do setor ao apresentarem qualidade superior a de rótulos consagrados da França, Itália, Espanha, Austrália, Argentina e África do Sul. A constatação vem de uma pesquisa recente e inédita coordenada pelo Dr. Rafael Lavrador Sant Anna, do Instituto Federal de Brasília (IFB), em parceria com as pesquisadoras Dra. Caroline Dani (ABS-RS) e Dra. Fernanda Spinelli (LAREN-RS e OIV). O estudo recebeu investimento de R$ 1,5 milhão da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), por meio dos editais Agro Learning 2022 e 2023.

 

A pesquisa avaliou as safras de 2022 e 2023 da variedade Syrah, uva símbolo da produção local. Os vinhos brasilienses demonstraram concentração excepcional de compostos fenólicos e antioxidantes, fatores determinantes para a estrutura, longevidade e complexidade aromática da bebida. Os dados foram comparados com padrões internacionais, utilizando protocolos reconhecidos pela Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), sediada em Dijon, na França, responsável por estabelecer e manter padrões para a indústria vinícola no mundo inteiro. 

 

Vinhedos da Villa Triacca – Brasília – DF. (Créditos: Kennedy Barros)

 

“Os resultados foram tão expressivos que refizemos os testes. Os índices de resveratrol e outros compostos estavam acima do esperado, superando vinhos de regiões tradicionais”, afirmou o Dr. Rafael Lavrador Sant Anna, coordenador do estudo.

 

As análises foram realizadas em laboratório especializado de Caxias do Sul (RS), único no país capaz de aplicar os rigorosos padrões internacionais. Os pesquisadores também destacam a importância da adaptação da Syrah ao solo do DF, principalmente com o uso da técnica da dupla poda, que favorece o amadurecimento ideal da uva no inverno.

 

Com essas concentrações, os vinhos do Cerrado garantem não apenas uma cor marcante e identidade varietal autêntica, mas também alta qualidade técnico-científica, com potencial para reconhecimento internacional e futura Indicação Geográficas (IG). 

 

O presidente da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal, Marco Antônio Costa Júnior, reforça: “Essa pesquisa comprova que Brasília não apenas entrou no mapa da vitivinicultura nacional — ela já pode ser considerada referência internacional. O Cerrado brasileiro tem mostrado um potencial surpreendente, e o papel da FAPDF é justamente apoiar iniciativas inovadoras como essa, que combinam ciência, desenvolvimento regional e geração de valor para a sociedade”, completa Marco Antônio.

 

Rumo à primeira Indicação Geográfica técnica do Brasil

 

A equipe de pesquisadores já pensa na construção da primeira Indicação Geográfica (IG) brasileira com base em critérios laboratoriais e não apenas sensoriais. A ideia é utilizar os compostos fenólicos como elementos técnicos para garantir a autenticidade e rastreabilidade da produção.

 

Pesquisador Rafael Lavrador (com saco plástico nas mãos) coleta amostras dos vinhedos de Brasília. (Créditos: Imagem cedida pelo pesquisador)

 

“Queremos que Brasília seja pioneira no país ao adotar uma IG que considere dados bioquímicos. Isso traria mais segurança ao consumidor e agregaria valor ao produto local”, defende o Dr. Rafael Lavrador. A proposta já foi apresentada à Vinícola Brasília, uma das principais produtoras da região, e pode ser viabilizada com novos editais de fomento.

 

Saúde na taça

 

Os compostos fenólicos presentes em maior quantidade nos vinhos brasilienses também oferecem benefícios à saúde:

 

  • Resveratrol: atua na prevenção de doenças cardiovasculares e neurodegenerativas;
  • Antocianinas: fortalecem o sistema imunológico e a microbiota intestinal;
  • Catequinas: têm ação antioxidante e anti-inflamatória, ajudando a retardar o envelhecimento celular.

 

Vista da vinícola Villa Triacca, em Brasília. (Créditos: Kennedy Barros)

 

Um caminho iniciado há mais de duas décadas

 

O resultado atual é fruto de uma trajetória iniciada há mais de 20 anos. Pesquisadores mineiros identificaram no Cerrado um ambiente favorável à vitivinicultura de qualidade, especialmente com o uso da técnica da dupla poda, trazida pelo pesquisador Murilo Albuquerque Regino, da EPAMIG. Essa técnica permite colher uvas no inverno, em condições ideais de maturação.

 

Em 2021, a FAPDF investiu no projeto ‘Desenvolvimento de tecnologias para o fomento da vitivinicultura no DF e Ride’, conhecido como Vinhas Brasília, coordenado pela professora Márcia Terezinha Longen Zindel, da Universidade de Brasília (UnB). O projeto estruturou a cadeia produtiva local e impulsionou o enoturismo, consolidando Brasília como nova fronteira do vinho nacional.

 

Pesquisadores do estudo na recepção da Vinícola Brasília. Da esquerda para a direita: Dra. Fernanda Spinelli (LAREN-RS e OIV), Dra. Caroline Dani (ABS-RS) e o coordenador do projeto, Dr. Rafael Lavrador Sant Anna, do Instituto Federal de Brasília (IFB). (Crédito: Foto cedida pelo pesquisador)

 

A Vinícola Brasília, criada em 2019 na região do PAD-DF, já comercializa rótulos reconhecidos e, em 2024, inaugura seu Complexo Vitivinícola. A Syrah, uva rústica e de alta produtividade, mostrou ser a mais adaptada ao Cerrado.

 

Brasília com taça cheia de inovação

 

Com dados científicos robustos, manejo técnico avançado e apoio contínuo da FAPDF, Brasília se posiciona como nova referência internacional na produção de vinhos finos. O Cerrado de Altitude prova que, mais do que um solo fértil, a capital federal tem uma taça cheia de inovação e excelência a oferecer ao Brasil e ao mundo mundo.

 

Destaques técnicos dos resultados

 

A pesquisa revelou dados surpreendentes:

Com maior concentração de antocianinas, os vinhos do Cerrado garantem cor intensa e identidade varietal única, superando Syrahs de grandes regiões da França e Alemanha.

 

Resveratrol (antioxidante ligado à saúde cardiovascular e longevidade):

Syrah do DF: até 12,08 mg/L
Barossa Valley (Austrália): 3,85 mg/L
Médoc/Bordeaux (França): 2,9 mg/L
Toscana (Itália): 3,2 mg/L

 

O Syrah do DF possui até quatro vezes mais resveratrol que vinhos franceses e italianos renomados.

 

Catequinas e Epicatequinas (taninos que conferem estrutura e corpo ao vinho):

Syrah do DF: 49,70 mg/L
África do Sul: até 17,76 mg/L
Vale do Rhône (França): cerca de 20 mg/L
Espanha (Rioja, Priorat): entre 18 e 25 mg/L

 

Os taninos do Syrah do DF são mais concentrados que em vinhos clássicos do Vale do Rhône e Rioja, garantindo maior estrutura e intensidade.

 

Antocianinas (responsáveis pela cor intensa e identidade varietal)

Syrah do DF

Malvidina: 17,90 mg/L
Cianidina: 46,84 mg/L
Delfinidina: 14,92 mg/L

França (Hermitage e Côte Rôtie): Malvidina entre 8,5 e 11 mg/L
Argentina: Malvidina até 9,75 mg/L; Cianidina até 10,8 mg/L; Delfinidina até 22 mg/L

 

Reportagem: Douglas Silveira

Fotos: Kennedy Barros

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