Estudo fomentado pela FAPDF avalia a presença de poluição plástica no Lago Paranoá
As concentrações mais elevadas de microplásticos no Lago Paranoá foram detectadas em áreas próximas às estações de tratamento de esgoto. (Créditos: Instituto de Química/UnB)
O impacto dos microplásticos nos ecossistemas aquáticos representam uma recorrente preocupação global. No Distrito Federal, pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa (FAPDF) estão conduzindo estudo detalhado sobre a presença dessas partículas no Lago Paranoá, um dos principais reservatórios de água da região. A pesquisa busca compreender as fontes de contaminação, os impactos ambientais e possíveis soluções para mitigar esse problema.
O último dia 22 de março foi dedicado às comemorações do Dia Mundial da Água, uma data que reforça a importância da preservação dos recursos hídricos e destaca desafios como a poluição por microplásticos.
O descarte inadequado de resíduos sólidos urbanos também representam fontes de poluição plástica identificadas no Lago Paranoá. (Créditos: Instituto de Química/UnB)
Microplásticos no Lago Paranoá
O estudo aponta que as principais fontes de microplásticos no Lago Paranoá são as estações de tratamento de esgoto, além do escoamento superficial das chuvas, que carregam resíduos plásticos descartados inadequadamente. Apesar da contaminação detectada, os níveis de microplásticos no Lago Paranoá são relativamente baixos em comparação com outras regiões do Brasil.
Para identificar e caracterizar os microplásticos, os pesquisadores utilizam diferentes métodos de coleta. Nas margens do Lago, centenas de litros de água são filtrados por peneiras de 60 micrômetros. No interior do Lago, uma embarcação é usada para arrastar uma rede de plâncton, permitindo a captura de partículas em suspensão.
Após a coleta, as amostras passam por um rigoroso processo de separação e análise em laboratório, que inclui a remoção de matéria orgânica e a caracterização das partículas por microscopia óptica e espectroscopia de infravermelho.
Microplásticos e Micropoluentes Emergentes
Os pesquisadores também investigam como os microplásticos interagem com micropoluentes emergentes, como os fármacos sulfametoxazol e diclofenaco, frequentemente encontrados em efluentes de esgoto.
O estudo revelou que microplásticos envelhecidos e recobertos por matéria orgânica podem atuar como vetores desses contaminantes, aumentando sua biodisponibilidade para organismos aquáticos. “Além disso, foi constatado que esses poluentes podem ser liberados no trato gastrointestinal dos animais, potencializando seus efeitos nocivos na fauna”, destacou o orientador da pesquisa, Fernando Sodré.
Integrantes do projeto utilizam jaleco para analisar amostras para o controle de possíveis contaminações de fibras oriundas do laboratório. (Crédito: Instituto de Química/UnB)
Embora a pesquisa não tenha investigado diretamente os impactos na fauna local, estudos internacionais indicam que a ingestão de microplásticos pode causar obstrução do trato digestivo, redução na absorção de nutrientes e intoxicação por substâncias químicas aderidas às partículas plásticas.
Para reduzir a poluição por microplásticos no DF, os pesquisadores destacam a importância de melhorias no saneamento, ampliação da coleta seletiva e redução do consumo de plásticos descartáveis. Apesar de possuir bons índices de saneamento, o DF ainda enfrenta desafios na gestão de resíduos sólidos, especialmente na adesão da população à separação e reciclagem de plásticos.
“É importante destacar que, mesmo com bons sistemas de tratamento de esgoto, os microplásticos podem escapar dos processos convencionais e alcançar os corpos d’água. Isso reforça a necessidade de reduzir o problema na fonte, evitando que essas partículas sejam descartadas no ambiente desde o início”, completa Fernando.
Influência na Formulação de Políticas Públicas
Os resultados desse estudo podem contribuir para a criação de políticas públicas voltadas ao controle da poluição plástica. Nos últimos anos, o Brasil tem ampliado sua participação em iniciativas globais para combater esse problema, mas ainda ocupa uma posição de grande produtor e baixo reciclador de plásticos.
A implementação de políticas de economia circular, como a logística reversa para embalagens plásticas, é uma das estratégias sugeridas pelos pesquisadores para reduzir o impacto ambiental do plástico e incentivar sua reutilização.
“O Lago Paranoá, um dos nossos patrimônios ambientais mais valiosos, desempenha um papel fundamental no abastecimento de água, lazer e equilíbrio ecológico da nossa região. Os resultados dessa pesquisa são um passo importante para a ampliação do conhecimento sobre a presença de microplásticos no ambiente e seus possíveis impactos nas águas e na saúde humana. Além disso, reforçam a necessidade de fortalecer ações de saneamento, gestão de resíduos e conscientização ambiental”, avalia o presidente da FAPDF, Marco Antônio Costa Júnior, sobre o estudo que foi atendido pelo edital Demanda Espontânea de 2023.
A pesquisa não analisou especificamente a água potável do DF, estudos indicam que o tratamento da água remove grande parte dos microplásticos presentes em fontes superficiais. Comparada a outras vias de exposição, como o ar e os alimentos, a água da torneira contribui minimamente para o consumo dessas partículas.
O projeto ajuda na conscientização sobre o consumo de plásticos e prática de coleta seletiva, formando cidadãos mais engajados na preservação ambiental. (Créditos: Instituto de Química/UnB)
Expansão do Projeto e Educação Ambiental
O estudo sobre microplásticos no Lago Paranoá faz parte de uma rede nacional de pesquisa, permitindo a comparação com outros corpos d’água no Brasil. Os pesquisadores planejam expandir a análise para outros ecossistemas aquáticos do DF e desenvolver projetos de educação ambiental, incentivando a participação da comunidade na redução da poluição plástica.
Ao integrar ciência, políticas públicas e conscientização ambiental, a pesquisa representa um passo essencial para a preservação dos recursos hídricos e a mitigação dos impactos dos microplásticos nos ecossistemas do DF.
Reportagem: Natasha Oliveira
Edição: Mariah Brandt
FAPDF
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