Segundo carta do corpo editorial da revista científica The Lancet, os números publicados pela Comissão Nacional de Saúde da China mostram que mais de 3.300 profissionais de saúde foram infectados no início de março e, segundo a imprensa local, até o final de fevereiro, pelo menos 22 morreram. Enquanto na Itália, 20% dos profissionais de saúde envolvidos na atenção aos pacientes com Covid-19 estavam infectados e alguns morreram. Os relatórios da equipe médica descrevem exaustão física e mental, o tormento de decisões difíceis de triagem e a dor de perder pacientes e colegas, além do risco de infecção assintomática.
Esse é um quadro que continua se agravando pelo mundo e é por isso que a pesquisadora do Departamento de Odontologia da Faculdade de Saúde da Universidade de Brasília (FS/UnB) Loise Pedrosa Salles está desenvolvendo o projeto “Planejamento digital e impressão de dispositivos para escudo facial de acetato atendendo ao Plano de Contingência da Pandemia de Covid-19”. A proposta foi selecionada pela FAPDF para receber apoio no âmbito do Convênio 03/2020, voltado para o apoio a projetos e ações de pesquisa, inovação e extensão destinadas ao combate do Covid-19.
A coordenadora do projeto destaca a importância do abastecimento de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para os profissionais de saúde, especialmente em um contexto de pandemia. “À medida que a pandemia se acelera, o acesso a EPIs para profissionais de saúde pode se tornar escasso e preocupante. A equipe médica é priorizada em muitos países, mas a escassez de EPIs foi descrita nas instalações mais afetadas. Algumas equipes médicas podem ter que ficar paradas aguardando os equipamentos. Além da segurança pessoal dos profissionais de saúde, deve ser considerado o risco de transmissão da infecção para suas famílias, se trabalharem de forma inadequada, sem EPIs”.
O objetivo geral do projeto é produzir EPI do tipo escudos de proteção facial inovadores. Para tanto, a equipe irá planejar digitalmente, imprimir os dispositivos de adaptação para a folha de acetato e produzir os escudos de proteção facial.Os dispositivos serão de fácil higienização e passíveis de descontaminação, o que permitirá que sejam reutilizados.
Loise Salles e aluno integrante do projeto em atividade (Foto: arquivo pessoal)
“Este dispositivo, diferente do escudo facial convencional, não ficará apoiado na testa dos profissionais, mas sim na lateral da cabeça e mais distante de áreas de risco de contaminação, como os olhos. A principal vantagem da fabricação desse dispositivo com o auxílio das impressoras 3D é agilidade no processo, ser passível de esterilização e melhor nível de polimento do que os produzidos em impressoras de filamento (possibilidade de retenção de patógenos em superfícies mais rugosas)”, explica Loise Salles.
De acordo com a pesquisadora, cada impressora tem capacidade para produzir dez unidades por hora e as peças saem praticamente prontas, pendentes apenas de assepsia. Ela também destaca que o projeto proporciona o compartilhamento de tecnologia e conhecimento com o setor produtivo local: “a parceria entre a UnB e a empresa Trion de planejamento digital em Odontologia, localizada no DF, irá gerar oportunidades para os alunos, sem falar na aquisição da impressora 3D que será de grande valia para atender a outros projetos do Departamento de Odontologia da FS/UnB”.
Cada impressora tem capacidade de produzir 10 unidades/hora. A peça sai da impressora praticamente pronta, restando somente a etapa de assepsia. Além da diminuição do risco de infecção para os familiares dos mesmos. Outro resultado importante é o compartilhamento de tecnologia e conhecimentos entre a Universidade e a empresa parceira, TRION (planejamento digital em Odontologia) localizada no DF, que irá gerar oportunidades também para alunos da UnB. Bem como, a aquisição de uma impressora que será de grande valia futuramente para atender a outros projetos do Departamento de Odontologia e da Faculdade de Ciências da Saúde/UnB.
Pós-pandemia – A pesquisadora também está de olho no futuro próximo, depois que a pandemia passar. Entre os objetivos do projeto, ela prevê avaliar, retrospectivamente, a incidência de contaminação entre os profissionais de saúde do Hospital Universitário de Brasília (HUB) e verificar a relação dessas contaminações com o uso do escudo de proteção facial ou a falta dele. Para essa análise, serão produzidos e distribuídos mil kits de escudos para os profissionais do HUB.
A previsão é que em três meses os protetores já possam ser entregues aos profissionais de saúde. A ideia é fazer entregas semanais, de acordo com o fluxo de produção.
FAPDF
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