A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória crônica, autoimune, que afeta o tecido conjuntivo de articulações e órgãos internos, como pulmões, coração e rins de pessoas com predisposição à doença. A evolução do quadro geralmente causa deformidades e alterações das articulações que podem comprometer os movimentos, além de causar fortes dores. Embora possa se manifestar em homens em pessoas de ambos os sexos, a artrite reumatoide afeta duas vezes mais mulheres, entre 50 e 70 anos de idade. Há, também, a forma juvenil da doença que começa antes dos 16 anos, afeta um número menor de articulações e manifesta menos alterações em exames de sangue, o que pode dificultar o diagnóstico inicial.
O fato é que a artrite reumatóide pode se tornar uma doença incapacitante para o paciente, tanto pelas dores, como pelo aumento da rigidez, redução da mobilidade, entre outros quadros que vão se agravando ao longo do tempo, já que se trata de doença progressiva.
A presidente da Comissão de Artrite Reumatoide da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), Licia Maria Henrique da Mota, destacou, em recente entrevista ao blog Drauzio Varella, que as doenças reumatológicas causam uma elevada taxa de afastamento laboral, ocupando o segundo lugar em afastamentos no Brasil de acordo com o Ministério da Previdência Social. A especialista destaca que se o paciente não receber tratamento adequado e contínuo não terá condições de manter sua rotina de trabalho.
Justamente pensando nessa população que convive com a artrite reumatoide, sofre com as aspectos incapacitantes da doenças e impacta também no atendimento ambulatorial do Sistema Único de Saúde (SUS) foi que a pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) Leticia Meda Vendrusculo Fangel desenvolveu um projeto de pesquisa para identificar possíveis fatores de risco e proteção para a vivência da dor crônica.
Com a pesquisa “Vivência da dor crônica em pacientes com artrite reumatoide e sua correlação entre aspectos biopsicossociais e biomarcadores sanguíneos”, a estudiosa buscou, entre outros objetivos, avaliar biomarcadores (citocinas, bradicinina, cortisol, óxido nítrico e MMPs), aspectos psicossociais e culturais, níveis de dor e de alteração das estruturas corporais atingidas e associadas à dor crônica. O intuito da metodologia foi elencar, por meio da correlação entre os aspectos analisados, fatores de proteção para os pacientes de artrite reumatoide com dor crônica.
A coordenadora explica que o projeto foi desenvolvido para melhorar a forma de avaliação e tratamento de pacientes com dor crônica por AR, visando também a redução de gastos com saúde e aprimoramento dos cuidados. Ela acredita que também será possível, com a identificação de fatores de risco e de proteção, impulsionar o setor produtivo de forma indireta.
“A identificação dos fatores de risco pode promover um estímulo ao setor produtivo para que haja investimento no desenvolvimento de tecnologias voltadas à melhor qualidade de vida dos portadores de dores crônicas. Por exemplo, se identificarmos que fatores biomecânicos, como a preensão palmar, pode aumentar a inflamação local, e essas alterações gerarem diminuição da qualidade de vida, de produtividade e funcionalidade, avaliadas neste trabalho, pode-se verificar a necessidade de adaptações de equipamentos de uso cotidiano, tais como equipamentos de cozinha, de limpeza, de informática e outros, direcionados biomecanicamente as necessidades desses pacientes”, ilustrou Letícia Fangel.
Resultados
Um dos métodos utilizados para análise das dores crônicas no pacientes foi a termografia. Os dados indicaram que as partes do corpo mais afetadas são os membros superiores e o tronco. Os antebraços e o punho direito foram as três estruturas com maior incidência e intensidade das dores.
Já nos fatores psicossociais, o estudo apontou uma série de áreas impactadas pelas dores crônicas causadas pela artrite reumatoide: humor, trabalho, relações pessoais, trabalho, atividades diárias.
Já na análise dos biomarcadores, a pesquisadora Letícia Fangel indicou, no relatório final do estudo, que foram observadas associações mútuas entre interleucinas, MMPs e cortisol, bem como correlação entre esses biomarcadores com os índices Clinical Disease Activity Index e a Numerical Pain Rating Scale. “Nossos resultados enfatizam que os biomarcadores sanguíneos são relevantes para orientar o manejo clínico e terapêutico da AR, pois podem ajudar a prever o desenvolvimento da dor e melhorar o diagnóstico, bem como fornecer informações prognósticas críticas que são úteis para fazer escolhas terapêuticas. No entanto, é essencial destacar que nossos achados mostraram que os biomarcadores sanguíneos por si só não explicam totalmente a progressão da dor”, concluiu.
Por isso, a estudiosa ratifica a necessidade de análise integrada entre fatores psicossociais, sociais, habilidades cognitivas, funcionalidade e resultados de biomarcadores, sendo a funcionalidade parte integrante do constructo dor: “com este estudo compreendeu-se que a AR está associada à desregulação do sistema imunológico e à inflamação persistente das articulações sinoviais levando a dor irreversível, danos à cartilagem e ossos e, deformidades articulares. Desta forma, observou-se que a funcionalidade atua de forma diferente do compreendido anteriormente. A dor não é responsável pela alteração da funcionalidade, mas sim a funcionalidade faz parte da forma que estas mulheres percebem e vivenciam a sua dor”.
Como forma de subsidiar melhorias na integração com o sistema de saúde, a coordenadora do estudo indica que a pesquisa não visou a confecção de equipamentos e utensílios, mas destaca que a falta de produção de aparelhos específicos a esta população está diretamente relacionada ao desconhecimento do setor produtivo sobre os fatores de risco e proteção.
Outro aspecto importante assinalado é a identificação dos biomarcadores que poderão auxiliar no diagnóstico e prognóstico dos pacientes e até o desenvolvimento de testes rápidos.
O projeto foi fomentado pela FAPDF “Chamada FAPDF/MS-DECIT/CNPQ/SESDF 01/2016 – Programa de Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde”, cujo objetivo foi apoiar a execução de projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação que promovam a formação e a melhoria da qualidade da atenção à saúde no Distrito Federal, no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS).
Confira a apresentação final de resultados da pesquisa aqui.
FAPDF
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