Novo método permite diagnóstico simultâneo de dengue, zika e chikungunya em um só teste
Zika, chikungunya e dengue são arboviroses, ou seja, doenças causadas por vírus transmitidos por artrópodes, neste caso o mosquito Aedes aegypti. A Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS) divulgou, em março deste ano, o Boletim Epidemiológico 8 – Volume 52 que apresenta os números das arboviroses urbanas causados por vírus transmitidos pelo mosquito Aedes no período entre 03/01/2021 e 27/2/2021.
O documento indica que, no referido período, Foram notificados 72.093 casos prováveis de dengue no Brasil. Em comparação ao mesmo neste período de 2020, significa redução de 75% de casos registrados. Já a febre chikungunya gerou notificação de 5.193 casos prováveis. A infecção pelo vírus Zika ocorreu em 327 casos prováveis.
De acordo com a análise apresentada no boletim, desde o início da pandemia de covid-19, o Brasil observa uma diminuição dos registros de casos prováveis e óbitos de dengue. Esta diminuição pode ser consequência de uma subnotificação ou atraso nas notificações das arboviroses associadas à mobilização das equipes de vigilância e assistência para o enfrentamento da pandemia, além do receio da população em procurar atendimento em uma unidade de saúde.
A atual emergência sanitária torna ainda mais complexo o quadro das arboviroses no Brasil, pois as infecções causadas por esses vírus produzem sinais e sintomas que podem confundir o diagnóstico clínico.
Considerando essas variáveis, a pesquisadora da Universidade Católica de Brasília (UCB) Rosângela Vieira de Andrade acredita que o diagnóstico laboratorial tem papel relevante para a identificação dos vírus circulantes e é fundamental para a prevenção e controle (dados epidemiológicos).
Por isso, ela contou com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa e Inovação do Distrito Federal (FAPDF) para realizar o projeto “Desenvolvimento de qPCR multiplex para o diagnóstico simultâneo dos vírus Zika, Chikungunya e Dengue para a implementação na Rede Pública de Saúde”.
A pesquisa propôs o desenvolvimento e a padronização de um teste de qPCR multiplex (PCR em tempo real) que identifique, ao mesmo tempo, nas amostras dos pacientes, os vírus Chikungunya, Zika e os quatro tipos de Dengue. Além disso, o estudo realizou o sequenciamento dos genomas completos desses vírus para conhecer as suas características evolutivas (filogenéticas).
“O intuito é que o diagnóstico dessas doenças seja feito em um único teste, possibilitando diagnóstico diferencial dessas arboviroses e tornando-o mais barato, prático e rápido, o que trará benefícios à população e ao Serviço Único de Saúde”, afirma a coordenadora do projeto, Rosângela Andrade.
Metodologia e resultados
Para cumprir os objetivos do estudo, a pesquisadora e sua equipe contaram com a parceria do Laboratório Central de Saúde Pública do Distrito Federal (LACEN/DF). As amostras analisadas saíram do Núcleo de Virologia do Lacen, totalizando: 140 amostras, sendo 15 positivas para o vírus chikungunya, 15 para vírus dengue, 10 para vírus Zika e 100 negativas para os 3 vírus foram selecionadas. Para obter sequências completas do Zika vírus, a equipe considerou amostras de dois estados brasileiros (Mato Grosso e Tocantins), além do Distrito Federal.
“As sequências obtidas apresentaram alta cobertura, sendo possível cobrir entre 94 e 100% dos genomas que se apresentaram em quatro linhagens distintas e se associaram em dois ramos diferentes relacionados às amostras do Nordeste do Brasil. Finalmente, obtivemos novas sequências completas do Zika virus no estado do Mato Grosso, demonstrando a relação das sequencias do mato-grossenses com as sequências do Nordeste e sugerindo duas possíveis entradas do Zika virus no estado no Mato Grosso”, detalha a coordenadora.
De acordo com Rosângela, para o desenvolvimento do teste de diagnóstico, primers e sondas (TaqMan) para qPCR foram confeccionados e testes de qPCR monoplex e multiplex foram padronizados. “Os resultados aqui obtidos tornam possível a realização do diagnóstico diferencial dessas arboviroses sendo considerados de grande importância. A disponibilidade desta metodologia permitirá a detecção de ZIKV, CHIKV e DENV simultaneamente em uma única reação, o que será de grande relevância para a rede de saúde pública”, afirma.
A cientista indica a necessidade de repasse da tecnologia desenvolvida para os laboratórios de Saúde Pública (Rede Nacional). Inicialmente, a metodologia será repassada, por meio de treinamento em serviço, aos profissionais do LACEN-DF. Ela ressalta que, para que a metodologia diagnóstica seja efetivamente incorporada ao SUS, é essencial o envolvimento do Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública (SISLAB) e da Coordenação Nacional de Laboratórios de Saúde pública da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (CGLAB/SVS/MS).
A pesquisa foi fomentada pela FAPDF “Chamada FAPDF/MS-DECIT/CNPQ/SESDF 01/2016 – Programa de Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde”, cujo objetivo foi apoiar a execução de projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação que promovam a formação e a melhoria da qualidade da atenção à saúde no Distrito Federal, no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS).
Confira a apresentação final de resultados da pesquisa aqui.
Texto: Mikaella Paiva
Edição: Thainá Salviato
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